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as dores da cor

Eu ando pelo mundo


Prestando atenção em cores

Que eu não sei o nome


Cores de Almodóvar

 Cores de Frida Kahlo

Cores!

 

Belchior

Toda cor é indizível. Toda dor é indizível. A mudança fônica não transfigura a condição de invisibilidade de ambas: tanto a dor quanto a cor – embora palpáveis – são indizíveis. No entanto, a vida se prenha em cores e dores pulsantes que nos proclamam das cintilações boreais às prateações lunares. Então a vida escorre em cores; e é desse lento tanger que se consolidam as fotografias de Paulo Lima. Sobretudo nesta mostra de cores indizíveis, inventário caracterizado principalmente pelo vibrar de colores flagradas na lentidão da câmera que captura luz em baixa velocidade. Por sua vez, o foco também não as define, as cores. Ao invés, as fazem aflorar – sublimes – em profusões de dor.

Ao receber os espectros desta mostra que se percorram – olhos nas mãos e tato no olhar – a inefabilidade das próprias sensações. Que a simples contemplação incite o espectador a desmassificar o olhar, pois, em si, as imagens procuram o abismo que as separa da representação primeva: o encontro do olhar com elas – instantaneamente – copula-se em significações. Deste modo, ao sujeito que olha é permitido depreender a fotografia não como mero instantâneo do real, mas a partir daí deflagrar-se em propulsão criativa: o olhar convida todo o corpo a criar/sentir. As imagens contidas no tecido fotografico de Paulo suscitam – de quem olha – esforco para além da expectação: convite a gerar novas realidades na medida em que se esgota a realidade material, desgarrando-as da cena fotografada.

No momento em que o olho vê, o observador dilui-se em sentidos, entra em contato com o mundo e é remetido a insólitos liames: de si e das coisas. Nesse instante, depara-se com os limites da própria potência criativa: viver pressupõe - indissoluvelmente – padecer a dor de reconhecer fronteiras de tempo, espaço, matéria – para o bem, e para além delas. Nesse sentido, da ambivalência de identificar nas cores as dores inerentes à existência humana, a observação das imagens apenas multiplica a impossibilidade de dizê-las. Assim – como as dores de Frida Khalo, que em generosa oferta previne, Minha pintura carrega a mensagem da dor. Creio que interessa pelo menos a algumas pessoas – os registros poéticos de Paulo Lima, transfigurados em fotografias, explodem em mosaicos de lumes. E um tanto de silêncio estilhaça o espectador com nuanças de um mundo quase inacessível à racionalidade técnica e à retórica eloquente.

Diante delas, resta – sentir, viver e sublimar a voz – apenas.

 

Por Gal Meirelles

Fotógrafo Profissional
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