Fotografia 198

Atualizado: 7 de jul de 2021

Salvador | Bahia | Brasil | Ano 2014


 
Tiragem 01: 05/15
 

 
Tiragem 02:
 


OFICINA IRRITADA

Eu quero compor um soneto duro

como poeta algum ousara escrever.

Eu quero pintar um soneto escuro,

seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto no futuro,

não desperte em ninguém nenhum prazer.

E que, no seu maligno ar imaturo,

ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro

há de pungir, há de fazer sofrer,

tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,

cão mijado no caos, enquanto Arcturo,

claro enigma, se deixa surpreender.

Carlos Drummond de Andrade

50
0